segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

''E se perguntassem o que vem a ser o certo, Gabriela olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia ido embora, mais um amor havia chegado ao fim. Nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então assim não a tocavam. Não tocava porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas Gabriela parecia acostumada. Acostumada e fria porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando Antônio e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado. Fosse o ponto final sua última lágrima de dor, já havia então sido decretado. Decretado num discurso mudo, num adeus em silêncio. Dito através de tudo daquilo que não havia sido falado. Antônio não parecia prestes a dizer nada. Gabriela não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco. Seu amor, comparado ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. Seja feliz.”

Ainda com açúcar e muito afeto.

Eu me apego aos primentos momentos para me convencer que tudo foi o mais verdadeiro que conseguiu ser. Me apego à eles, pois pensei que o tempo não os modificaria, pensava isso só porque eu tinha vontade que assim fosse. Vontades nunca são o suficiente, não para o tempo. O tempo... o tempo nos toma de nós, sem que a gente seja capaz de perceber o que se perde ou as coisas duras que se ganha na nossa longa caminhada pelo tempo. Ele que me arrancou da forma mais dura, aquilo que sempre cultivei e que nunca quis perder. Me apego a solidão, a coisas tortuosas e incompletas, pois foi isso o tudo que me restou: os sentimentos inconsideráveis, que não tem importância nem para quem os sente. Me apego as mágoas mais puras e as lágrimas que se esvaem, mas nunca me deixam só, nem mesmo nos momentos em que eu suplico por solidão. As dores gritam para me ensinar o que não entendo, o que é desconhecido, porém, me é essencial. A lucidez surge nessa minha continuidade, mas eu nunca a quis. Nunca. Ainda prefiro minha intensa individualidade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O tempo de uma noite

- Não. Por mais interessante que eu me mostrasse à ela, eu não conseguiria, cara. Você não entende o que conheci estando com ela, não queria que ela fosse... não agora que ela já encheu meus ouvidos de palavras que sempre me faltaram e outras que me restam. Ela bebeu toda a bebida do meu copo, de uma forma encantadora. Mas na verdade todos os seus movimentos eram encantadores. Ela abria e fechava a sua boca, de um jeito tão lindo, dizendo até coisas que eu nem cheguei a ouvir, porque eu prestava mais atenção em seus movimentos do que nos sons que a sua boca emitia. Eu a desejei desde que a vi, imaginei seu vestido jogado no chão meu quarto, e imaginei também como ficariam seus olhos quando amanhecessem ao meu lado. Eu queria sua boca de novo, que neste momento e em outros futuros, saciaria quase todas as minhas vontades. Aquela boca cheia de dentes que me sorria discreta e me mastigava. Cara, aquela mulher nunca deitará na minha cama novamente, só se eu for um cara de muita sorte. Enquanto ela tirava a roupa, ela cantarolava músicas de Vinicius de Moraes, a poesia parecia morar em seu corpo pequeno. Seus olhos eram meigos, mas ali se escondia o seu veneno, que era tão doce quanto a sua presença. Antes de cairmos no sono, eu não sabia quem era ela e nem quem era eu, pois enquanto nos entrelaçavamos seu corpo parecia ser tão meu, quanto o meu. O sol nasceu... e cadê a moça que adormeceu nua ao meu lado? ela se foi antes mesmo que eu me apaixonasse mais ainda por seus olhos, que eu esperava ver amanhecer.

- Ainda bem.

- E o pior de tudo, é que nem mesmo me lembrei de pedir o seu telefone, nem seu endereço. E antes de trazê-la para minha casa, nem me lembrei de perguntar o seu nome.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

No chão

E foi em uma dessas voltas que ela caiu, e lá no chão ficou. Em um momento de delírio ela se sentiu em sua casa, aquele chão tinha cara de ser dela, mesmo com aquela atmosfera totalmente desconhecida. Ali ela se reduzia a um simples objeto sem dono, que caído no chão, nenhuma mão se estendia para levantá-la. Mas também, nenhuma mão seria amável o suficiente para resgata-la das coisas que cresciam ao seu redor, pensou ela.
E então, lá de longe um homem veio ao seu encontro. Ele a observava com um olhar piedoso. Ela o olhava com um olhar que implorava solidão. O homem num gesto quase espontâneo, tirou as mãos do bolso e estendeu a mão para a menina.


- Posso tirar você desse lugar ?
- Não, você não pode.
- Porque?
- Porquê este é o lugar que pode ser meu.
- Eu estou aqui. Posso ser seu se você quiser...
- Não, não quero.
- Porque?
- Porque se você for meu, eu não serei minha. Eu preciso ser minha, infinitamente minha.




A menina corria do mundo, enquanto o mundo girava girava e girava, sem sequer espera-la.

Adeus você

''Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar

Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar

Quero ver você maior, meu bem
Pra que minha vida siga adiante. ''

domingo, 19 de dezembro de 2010

A ex feliz cidade.

Nas ruas calmas, os automóveis correm apressados, ao encontro de qualquer coisa que esteja a sua espera. O que os move é a pressa de chegar. Onde? é o que me pergunto nesses dias tão pesados e nessas noites tão cheias de luz que fazem silêncio no vazio que perdura. A cidade que tenho diante dos meus olhos é mais imensa do que já foi. Sim. Ela já foi pequena nos dias que eu andava por essas largas ruas sem carregar tanto sal nos olhos e na boca. Nada se perdia, porque nessa velha cidade que já me pertenceu um dia, eu sabia o que me esperava por conhecer tão mais verdadeiramente minhas certezas, que eram tão absolutas quando misturadas com inverdades. Tenho medo dessa cidade porque ela é má e impetuosa. Eu sei que por trás de toda essa iluminação, coisas más se escondem atrás de bocas que articulam palavras falsas que soavam sólidas. Essa cidade que é tão grande. E eu tão pequenina no meio de toda essa grandeza tão incompleta e frívola. Foram as ruas dessa cidade que me fizeram andar em direção à coisas tão indignas de sequer uma lágrima de sal. Toda essa cidade dá risadas ao se deparar com todas as minhas faturas expostas, que doem incansavelmente. Tenho medo dessa cidade, por me apresentar um universo tão cheio de nuances, onde o azul tem gosto de azul. E depois arrancá-lo das minhas mãos, jogando em minhas costas coisas tão mais pesadas e sujas. Tentei ouvir a voz tímida da cidade, que norteava todas as minhas palavras e energias a um mundo inteiramente monocromático, onde as coisas nascem para serem urgentemente mortas, onde os cantares soam desafinados e os sonhos são amargos e secos. Me agrada muito mais esse gosto amargo, do que a falsa doçura da sua presença.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota dágua

-

Chico Buarque de Hollanda

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Deixa estar

Em meio de tantas renúncias, gritos e descompassos, não me reconheço. Talvez o caminho de dores inesperadas, seja o caminho para quem sabe, me encontrar em uma outra vida, em uma outra história que seja totalmente outra. Entrego aos caminhos todos os meus encontros e todas as pequenas coisas que acontecem fugazes, que aparecem com a necessidade de se despetalarem rapidamente e também as coisas que nascem para serem profundas, fazendo parte de tudo que tenha imensa importância para minha memória. Tudo que se foi, precisava ser perdido. Eu sei disso. Eu sei, sem lágrimas, pois elas se cansaram de derramar-se. Ei!que dia tudo doeu e eu não senti? que dia tudo se perdeu e eu não vi?

Cais

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar.



Milton Nascimento

sábado, 4 de dezembro de 2010

Domingo, 5 de dezembro de 2010, 00:30.

Muito prazer, meu nome é otário, vindo de outros tempos, mas sempre no horário. Sinto muito não ter te enviado cartas por esses dias que passaram tão devagar, ou por não perguntar depressa, o que acontece nas suas noites e nos seus dias de sol, porque nos dias chuvosos, sei que nada acontece. O problema é que eu não posso te escrever, pois não consigo não me lembrar daquele filme. Você se lembra? aquele filme que a gente sempre assistia, conhecendo o seu fim: trágico, sangrento e cheio de dores inacabas. Mas toda vez que eu o via, era como se fosse a primeira vez. Eu queria inventar um novo final, e um dia eu cheguei tanto a acreditar que ele mudaria, que quase cheguei a inventar que ele havia mudado. A esperança que sinto é perigosa, pois ela sempre me engana, quando mais preciso enxergar as coisas reais. E o que é a realidade? Ainda não sei. Às vezes acho que nunca cheguei a conhecer a realidade, por viver num universo tão meu. Me vejo lutando por causas que nunca vencerei. Nunca. Entrando em barcos furados na esperança de ver o irrealizável, realizar-se bem diante dos meus olhos, já cansados de tanto esperar o impossível, deixar de ser. Esses olhos que inventam o que querem ver, enxergando coisas que quase nunca, existem. Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento. Quase sempre são dragões, que se tornaram moinhos de vento. Grito com toda a minha força: sim, eu permito. E recebo-os - ainda - de todo o meu coração, mesmo conhecendo o seu começo e o meu final. Aquele velho final: trágico, sangrento e cheio de dores inacabas. Desculpe, mas não posso mais, não posso mais deixar a minha verdade para viver de suas mentiras sinceras, que não podem me interessar. Se dói? dói. Minha verdade dói e permanece só, no meio de tantos outros, que se esquecem de suas verdades ao conhecer a verdade dos outros. Só quero te dizer que tentei, de todas as formas possíveis - e impossíveis - fazer de você a pessoa que meus olhos enxergavam, e inventavam, sem parar. Fantasiando uma vida inteira, e as demolindo sem me cansar. Não sei o que é se cansar de ter esperança de um dia ser tudo que se quer, mas ainda espero ansiosamente esse dia chegar. Espero carregando o peso cansaço de uma pessoa que nunca se cansa. Talvez outro dia eu volte a te escrever, quando você parar de escrever-te em meus olhos que acreditam em qualquer invenção que pareça bonita. Não tente esquecer de tudo aquilo que se fez tão imenso em um dia que acreditamos juntos, pois é impossível esquecer de coisas que acontecem intensas dentro do peito. O fim, é só um recomeço. Foi a grande necessidade de pessoas que tentaram se mudar o tempo inteiro. Verdades não mudam, nunca. Te escrevo nas minhas tardes, noites e dias, afinal, você sempre vai estar.


Com o carinho de todo o nosso mundo que construimos - e destruimos - juntos, Juliana.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Casa pré-frabricada.

Havia acabado de pintar a parede da sala, agora azul. Azul: da cor da paz que desejava desde que a porta foi aberta, e fechada bruscamente, sem enternecimentos. Pelo mesmo que um dia a fechava sem urgências. Tamanha era a calma, que nunca conseguia interromper o meu sono, que era leve. As paredes com suas cores guardavam as formas, os cheiros e a história que não quis prosseguir. Naquele tempo em que tudo era faltoso, menos o amor e minha vontade de prosseguir para nossa eternidade - mas já era eterno - e eu não sabia. Quisera eu, me desfazer desses sentimentos que me consomem cada vez mais e não se ausentam nunca. Dessas coisas que de tão imensas dentro do peito, são impossíveis de suportar, mas suporto com a dignidade de um rei. O disco arranhado atrasa as canções, enquanto mudo os móveis da casa, colocando todos numa ordem que não se parece com você, afinal, você nunca chegou a conhecer. Compro novas flores e as coloco no mesmo vaso. Te leio nas suas linhas, que mais parecem minhas, tento guardá-las e me convencer que aquelas palavras não mentiam. Tão difícil entender, imagine explicar. Pois as coisas se emudeciam por dentro, assim como por fora, pois as palavras fugiam de mim. Tento mudar o que é profundo, e não desisto de decodificar tudo o que caiu no meu abismo interior. Muito interior. E não me importa que eu tenha que me destruir para que isso aconteça, pois é aí que minha coragem se esconde.

domingo, 28 de novembro de 2010

Meu amor,

devo começar essa carta dizendo que te amo? ou devo dizer que te amo, no fim da carta?
Afinal, o amor vem no começo ou no fim? Não sei. Só sei que ele sempre justifica os meios.

Águas de outubro

Nos últimos dias a chuva cai como quem nada quer, deixando os tempos mais longos para ter pensamentos estapafúrdios. Luz e beleza .Luz que ninguém quer saber de onde vem,já que o sol não apareceu no passar dos dias .Os minutos parecem se prolongar,as coisas parecem ficar mais intensas cá em mim. E então eu deixo que todas as minhas esperanças voltem a fluir, logo deixando de ser paradoxal com as minhas vontades, todas elas se elevam ao máximo do querer, como nunca se quis antes,desejando tudo que cause prazer do fundo da alma.




Sábado, 31 de outubro de 2009. Um dia feliz.

Do outro lado da tarde, Caio F.

Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.
Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre tudo aquilo que não se pode ver.

De vez em sempre, me pego apenas com minhas inquietações, que nunca se ausentam. E brigo com toda forma de vida, que insiste nesse meu velho peito, que não se cansa de ser. Nunca pedi. Você que está perto, ou longe, me ouça: eu nunca pedi. Nunca pedi pra viver de emoções tão maiores do que eu. Tão pequena e imensa dentro das minhas próprias vidas e inúmeras caras. Ainda vou passear, lá do alto de onde você tem medo de voar, com os meus melhores sonhos, os mais doces possíveis: como aquele de alcançar todas as infinitas nuvens do céu. Não vou sair com uma única flor. Vou sair com aquelas tantas flores, que me enfeitam e fazem parte daquilo que sou e que você já conhece, tão de perto quanto eu. Toda a intensidade que carrego em cada passo, ultrapassa e invade o que tem vontade de ser, e não irá se despedir em nenhum dia. Eu entendo, ou melhor: sinto. Que se eu peco é na incansável vontade de ter. Pois é, que assim em mim, eu me atirei.




Aceito a condição.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dois - Tiê

Como dois estranhos,
Cada um na sua estrada,
Nos deparamos, numa esquina, num lugar comum.
E aí? quais são seus planos?
Eu até que tenho vários.
Se me acompanhar, no caminho eu possso te contar.
E mesmo assim, queria te perguntar,
Se você tem ai contigo alguma coisa pra me dar,
Se tem espaço de sobra no seu coração.
Quer levar minha bagagem ou não?

E pelo visto, vou te inserir na minha paisagem
E você vai me ensinar as suas verdades
E se pensar, a gente já queria tudo isso desde o inicio.
De dia, vou me mostrar de longe.
De noite, você verá de perto.
O certo e o incerto, a gente vai saber.
E mesmo assim,
Queria te contar que eu talvez tenha aqui comigo,
Eu tenho alguma coisa pra te dar.
Tem espaço de sobra no meu coração.
Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Olha razão, ainda não quero te trocar pelo meu coração. Bem... explicação nenhuma isso requer.



O que é razão mesmo?

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu paro, ouço. Tento aprender o que acabo de ouvir. Leio que perder-se também é caminho. Meus pés não tocam o chão. Meu coração vive nas estrelas. Minha falta de razão, vive na terra quanto no céu. A solidão bate na porta, desejando minha companhia. O incerto me faz querer. O bom senso se despede. As palavras ditas quando tinham que ser, me acalmam. O devaneio se faz constante. Sou plena, de sentimentos que ainda não sei. O inesperado chega com uma beleza que nunca senti. A lucidez é minha. Dúvidas me aparecem. Entender eu não quero. Penso em desistir, mas sinto em ficar. O que parece subjetivo, é mais que óbvio. O medo ainda dar risadas e é feliz. É tudo dono de tanta grandeza, que transborda. Idéias se transforam no que eu permiti. A exatidão se vai. O coração fala, sem sequer pensar. Tudo nasceu de um sonho, que não sonhei. E da realidade, que é tentativa de tornar-se sonho.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Para uma menina com uma flor.


Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.



Doce, delicado e grande mestre das palavras, Vinícius de Moraes.

domingo, 31 de outubro de 2010

Ao som da nossa velha canção, te encontro em algum lugar. Não foi perigoso ouvi-la tão perto do coração, por que não te procuro mais naqueles sonhos que um dia sentiram a utópica vontade de se tornarem reais. Suas palavras corriam para serem entendidas, mas não me alcançaram, pois não me corroem mais, não me consomem, não tiram meu sono e muito menos arrancam meu sangue com voracidade. Sinto lhe dizer, mas elas não surtem mais o efeito que você sempre desejou quando libertava todas aquelas brutas palavras que chegavam a mim, duras como pedras, e no momento em que me atingiam e que você sempre presenciava, eu esperava um abraço que me acolhesse ou até mesmo palavras falsas, que soassem doces. Mas me surpreendia, porque você sequer estendia sua mão. Enquanto eu recebia pedras, eu te mandava flores brancas e te dizia palavras delicadas, cheias de acalanto, quando você sentia a incessante vontade de ouvi-las. Te oferecia meu colo, que se fez sua casa,e que sempre acabava molhado com suas dores a liquefazer, que escorriam rapidamente por sua face, porém, nem precisava olha-la para saber que seus olhos inundavam, pois você tremia devagar se afogando no travesseiro, sem olhar em meus olhos. Mas eu nunca deixava te doer muito, porque sua dor me machucava tanto e eu queria te livrar de todos os males e dores do mundo. As tantas dores do mundo. Relembrando essa velha idéia, já vejo que o que eu desejei sempre foi o impossível, o que nunca existiu. Afinal, o mundo é tão grande que eu nunca conseguiria te livrar do inevitável. Queria desfazer você, para torná-lo a pessoa que eu amava, mas que nunca existiu em seu corpo, porque me apaixonei por uma idéia, uma idéia que você nunca se tornou pra mim. A pessoa que eu amo existe, mas não em você que sempre me deixava despedaçada pelos cantos, naqueles instantes de desespero que requer proteção. Não existe mais emoção ao te ver, ao me encontrar com nossa longa história em teus olhos, nem mesmo a vontade de pegar carona pra te acompanhar. Por que ao ouvir nossa canção, não lembrei de nada feliz, apesar de todas as intensidades que vivemos durante longos dias, não me recordei de nenhuma delas. Senti um gosto amargo que não restaram dúvidas, me fazendo lembrar daqueles dias que tudo que eu precisava era de uma mão amiga, aquela que você nunca ofereceu.

Você me disse o que era sufoco, eu descobri o que é sossego.


Aqui encerro o capítulo de nossa história: o tudo, que virou nada.

domingo, 24 de outubro de 2010

E então ela se fez bonita, com seus grandes olhos de cores incostantes que devoram e desejam desesperadamente apesar da calma. Retorna-se aquela velho encanto que havia se perdido num mar de feridas feitas de puro sangue esculpidas cruelmente planejadas, que agora haviam se perdido em meio de novos sonhos, sonhos inteiramente felizes. Sentia falta do inteiro. O que parecia infito se reduz a nada, como se nunca estivesse existido um dia de certeza do infinito. Sim. Com o passar tudo se transforma em alívio, leveza e elevância de ego. Porque no final das contas, me surpreendo com uma quase descoberta: eu não perdi nada.



... E volta o encanto naturalmente seu, com o novo e velho estado de graça.

sábado, 9 de outubro de 2010

'' o geminiano pensa em pensar ''

De volta as velhas maluquices imbecis.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Porques.

Por que não te conheço, mas porque sei que existe. Sei bem como você chegará, apesar de sempre esperar o inesperado, eu me imagino chegando ao mesmo tempo em que você chegar. Só te peço que chegue de verdade e com verdade... Claro! Qual o por quê de não chegar desta forma? Existem infinitas formas de surgir, mas você vai saber chegar como eu sempre quis: de uma forma carinhosamente introspectiva e sorridente. Vai me conhecer e saber meu chocolate preferido antes mesmo de saber meu nome, antes mesmo do nosso começo, e claro que saberá o que desejo de tudo. Não me importo que demore, não me importo em perder mentiras para dar espaço a futuras intensidades mais felizes e consequentemente mais verdadeiras, pois a desarticulação faz parte de tudo que sou e preciso, e claro que você sabe disso, assim como sabe da minha preguiça infinita. Te mostrarei todos meus espinhos, e vou me surpreender por quê você não tem medo. Não tem medo do que é pleno e nem medo de minha plenitude sentimental, e eu vou achando bonito você estar demasiado perto para presenciar meus devaneios e meus pequenos exageros.



Te sinto cada vez mais. Cada vez mais perto, cada vez mais meu.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tento ser sua flor.

Tantas coisas que me explodem e fazem sorrir a alma. Fazem sorrir com um amor as efemeridades que até então era desconhecido. Cores e novos deliciosos sabores surgem daquilo que é bonito, mas não conheço, porém quero viver. E de pensar que todo esse processo me levou a ter vontade do inesperado. Vontade de observar cachos delizando no vento e sorriso com jeito e cheiro de primavera. Mas como é difícil te prestar atenção e tentar ser sua flor. Eu quero, quero muito...




Não me importa se dure até amanhã ou dure até para sempre. Ou talvez... nunca exista.

E se você fecha o olho a menina AINDA dança.

ai! esses corações que não se cansam... que querem ser tocados e desconhecem o que é abster-se.

sábado, 2 de outubro de 2010

É de se entregar.

Você quer saber se me arrependo de ter vivido falsas verdades? Você pergunta logo pro meu coração que não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo que se quer? Que ninguém se engane. Meu estado de graça permanece o mesmo. E meu coração que é feito de sangue e verdade, continuará. Continuará a se render, pois ele acha bonito se entregar a sorte, se entregar a vasta idéia de ser feliz e se dar. Meu desejo de amar é infinito, pois eu sou feita de amor em todas as suas formas. As portas continuarão abertas, para que você desperte sentimentos em mim , e que você o sinta de verdade e me aprenda na minha desorganização sincera.




Talvez se você me fazer sorrir, eu possa falar algumas bobagens para alegrar o seu dia.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Li ber da de .

Os dias acontecem sufocantes, e me canso rapidamente. Meu interior grita com histeria a procurar algum caminho de liberdade, alívio e leveza. Já que parece algo tão longíquo. Só sei que enquanto existir o passar do tempo, eu quero esperar por tudo ou por nada. Apenas esperar o tempo que não sabe passar... Como os pássaros que passam e deixam passar, que voam sem saber porque e desperdiçam o tempo na eterna busca do que não se sabe. Isso é liberdade, seguir sem saber porque, talvez pelo simples gosto de seguir, ou pelo delicado prazer de voar.


.



Escrito em junho de 2010.
Postado no dia 1 de setembro, dia em que a liberdade é tão leve que parece flutuar.


Ar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Agosto

Passe vento leve,
e leve a dor que me leva.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

'' ...Minha sabiá ,


Vem me dizer, por favor
O quanto que eu devo amar
Pra nunca morrer de amor...''

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Viver é melhor que sonhar.


'' Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...''

Aqueles ares ainda me pertenciam, eu o respirava e me convencia: serão eternamente meus. Pés que calçavam número trinta e quatro e até números menores já haviam transitado por aquelas ruas, que agora calçando número trinta e seis passeavam em cima das mesmas pedras, com os mesmos sonhos e o mesmo jeito torto de sempre.


Subia as escadas que já conhecia. As árvores eram as mesmas de anos atrás, as frutas idênticas, a pintura havia mudado, não sendo a mesma de quando pequena, me tornava uma princesa mãe de uma barbie, o quadro ainda estava ali, um cavalo imutável dono de uma jovialidade eterna que a arte o proporcionava. A saudade das coisas que se foram - que raramente me lembro - me consumia a cada passo, fiz um barulho que quando calçava número trinta e quatro não fazia. Claro! agora calçava trinta e seis e não era mais uma princesa mãe de uma barbie, que produzia sons quase imperceptíveis, era um corpo maior de pés maiores. Mas e os sonhos? os mesmos. Dos mesmos tamanhos, ultrapassando o tamanho do corpo, porém, faziam barulhos altos demais dentro de mim, que ninguém era capaz de ouvir, a não ser eu. Pretérito e presente se confundiam, numa desorganização que fazia silêncio por não saber defini-los claramente. Ali, parada num lugar que já vivi muitas horas da minha meninice feliz, caos no meu interior desabrochava. O que deixei ali, há anos atrás, ainda sou eu, fiquei surpresa. Precisei passar por ali, para descobrir que o que eu fui, é ainda o que sou. Apesar de toda a liberdade de ser, e do direito de mutação, isso não me aconteceu. Enfim, entrei no lugar onde certezas foram confirmadas. O tempo me guardou, do seu jeito, mas guardou. Me vendo com seis anos, olhares ainda são os mesmos, a timidez risonha, a doçura ao cantar, o amor a Elis Regina e a música popular brasileira, o jeito de coçar o nariz, de amarrar os cabelos e de sorrir, sorriso que lá deixei e sempre volto para buscar. Sorriso largo, o mesmo, que por sorte o tempo fez o favor de guardar.

sim.

As coisas são bonitas demais quando chegam com ela. Não são bonitas por si só, são bonitas pelo simples fato de acompanhá-la. Apesar da visão de pluralidade, me ver em alguém é algo insólito demais. Concordando com Lispector : '' tudo começa com um sim'' . A partir dessas três letras, me vi chegar em minha própria vida, digo de passagem ser algo muito meu ( pensava ser só meu), com muita audácia e convicção pensava não existir mais de mim. Mas descobri muito de mim, e não pense que procurei entender o que sinto. Sentir é suficientemente importante, procurar entender os caminhos que cruzo me leva a um desentendimento maior. Então, não existe nomes nem explicações para emoções que surgem do que parece ser nada, não existem para algo que começou com uma palavra de três letras que quando parei para analisar, foi a pequena e grande responsável de todas as intensidades que surgiram na minha vida- sua vida . Tudo nela, era eu. Eu a achava bonita, não sei por se parecer comigo ou por ser ela - que era eu. Não sei se isso soa muito ousado, mas minha essência pertencia a ela, e isso era dono de uma beleza excêntrica demais, e excentricidades sempre me encantaram muito. Por esses dias fiquei sabendo que ela não sabe o número do celular, eu também não sei o número do meu. Esse esquecimento serviu pra lembrar, de como continuamos sendo...

u-m.a b o n i ta e-x.centricidade.



Amém!

domingo, 11 de julho de 2010

Consulta

- Doutora, estou ficando louca. O que faz de mim estável, me empurra a uma incompreensão ainda maior. É tudo instantâneo demais, você entende? não consigo viver de fugacidades, mas sei que a vida é isso doutora, eu sei. Eu entendo, mas não aceito a duração do meu tempo. O que eu faço desse tempo que passa sem sequer senti-lo como minha vontade quer? Ok. Eu sei que eu não devia ser assim, sei que poderia viver na superfície para evitar todos esses acidentes, mas o que acontece é que eu já sabia dos acidentes antes mesmo de começar a vivenciá-los. Na verdade o que acontece é algo premonitório, os sinais chegam antes da minha ação, avisando-me o meu fracasso. Queria que você me medicasse, algum remédio que não me fizesse dar ouvidos as premonições, algo entorpecente. Minha respiração é ofegante, constantemente, isso me encomoda entristece. Assim como as borboletas na barriga, não param um instante e machucam muito, elas deveriam ser um acontecimento raro, mas não são. Eu choro facilmente, e descubro coisas através do meu choro. Descobri tão facilmente que sou só, que nesse mundo de tantas e tantos eu consegui ser só, embora ser sozinha, sou extremamente dependende emocionalmente das pessoas, não entendo como posso ser dependente de pessoas e ser só. Já falei do meu cuidado? acho que não. Doutora, eu tenho muito cuidado com tudo que amo, tenho paciência demais, ter paciência demais é um erro, um acerto ou uma acomodação? ou simples covardia de lutar contra as coisas? não vejo isso como um ponto muito positivo, o que acontece é por eu ser demasiadamente para os outros, eles não são comigo. Logo eu, que achava que não conseguiria viver sem reciprocidade, isso não é essencial, não para manter qualquer relação. Mentiras e migalhas mantem uma relação, assim como o amor mantem uma relação. Cada dia que vivo me leva a um desentendimento, porque não sei o que fazer da minha vida , consegue sentir a loucura disso? Não saber o que fazer é algo tão vago e sem rumo, que me enlouquece. Os números, a astrologia, as supertições não me salvam, aliás... nunca me salvaram, mas é algo que é meu e tampouco se desfazem. A vida pesa muito e exige muito de mim, mas quando isso me vem a cabeça me lembro de uma conversa de Lispector e sua amiga: '' mas você super exige da vida'' Isso me desorienta muito, porque eu sei que o peso que aguento é o que mereço suportar. Doutora, e você? acredita em outras vidas? talvez eu não suportei na minha vida passada, e tenho que suportar nessa. Talvez seja uma missão, uma evolução de alma e espírito, ou talvez seja nada, só bobagens de uma pessoa que procura justificativas para a chegada das coisas. Doutora, só quero um remédio que diminua minha intensidade e essa esperança boba , sei que corações como meu não se encontram mais por aí. Mas, do que vale ser tão insólito e tão machucado assim? sei que mil pessoas chegam aqui todos os dias falando essa droga de clichê de ''coração machucado'' também não simpatizo com essa frase que soa com estranheza aos meus ouvidos, mas meu coração nesse momento tem dificuldades de se expressar. Aliás, desejo uma droga tão forte quanto um cavalo que faça meu coração pulsar mais devagar, porque essa intensidade não vale mais de nada. É de fugacidades que tenho que viver não é? então diminua o ritmo desse coração que não quer se cansar sequer um segundo de ser. Quero me despedir dessa vida, o que eu faço?
- Quer uma coisa prática e fácil pra se despedir dessa vida ?
- Desejo com urgência.
- Morra. É a única saída de quem tem um coração que não se suporta de tão grande, e a única saída de quem não tem saída.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

sobre flores, surgindo de amores.

A flor nasce, após o fazer amor
Da terra e o calor
Marcam começos de amores,
e são despetaladas no começo das dores.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

assinado, eu.

O sol acorda, amanhece a fera.
O doce do chocolate, desperta em mim um anjo.
Das instâncias de menina, faz-me mulher.
Das ressonâncias de mulher, torno-me um bicho inofensivo.



'' Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. ''

sexta-feira, 25 de junho de 2010

06:40

A luz do sol das seis e quarenta da manhã, me ilumina nesse momento. Nessas hora prefiro parar e observar os raios solares beijando meus cabelos e aquecendo minha pele com delicadeza, embora ame o frio que me acolhe. Mas como geminiana, me permito e posso gostar dos dois com a mesma intensidade. Agora, as pessoas correm demais, estão apressadas para viver. Menos eu e o velho bêbado que está um pouco distante, ele se embebeda e se encanta mais ainda com os raios solares (tão bonitos!), e sem pressa como eu, contempla.





Pressa? não. É tudo simples e bonito demais para ser ignorado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

do nosso amor, a gente é que sabe.


A calma voraz daqueles momentos ultrapassavam o querer. As vontades eram demasiadamente longas para terem algum fim, mas a sensação que as vezes me consome é essa: a inexistência dos fins e do tempo. É uma visão totalmente subjetiva. Há coisas que perduram e você se lembra uma vida inteira (até duas), e que só se desfazem por inteiro quando morre a carne que nos protege de tudo e nada. Era o caso daqueles grandes átimos que aconteciam confusos, doces e inesquecíveis, cada dia mais fortes. Que são perfeitos não pela ausência de tristeza, mas pela profundidade da existência de segundos ou até minutos de felicidades exageradas que salvam uma vida inteira do pensamento de solidão eterna. Tornei-me um sufixo. É algo engraçado de se pensar, porém se encaixa perfeitamente em relação ao o que sinto, pois existem coisas que precisam de outras para tornarem um só corpo, o amor entre dois corpos é o suficiente para ser um só. Tenho gosto pela minha essência - e pela nossa - e pelo corpo que somos. Isso talvez seja necessário quando mudamos as linhas narrativas da vida, talvez seja realmente preciso ser um só, pra saber como são dois. Tudo é apenas eternidade a partir do nosso reconhecimento, hoje sei que as coisas que procuramos, estão também a nosso procura, e que univeros que se distanciam mais cedo ou mais tarde se encontram. A entrega e as instâncias que por coragem ou pelo humilde prazer de amar fazem de nós seres de uma grandeza sem medida, pelo prazer do amor descobri o que até então estava escondido, mas que era eu. Conheço bem quem me ensinou a ter fé e ver coragem no amor . O que pulsa dentro de mim, é por amor, que eu recebi. Meus olhos se fecham com felicidade quando me lembro que achei uma parte do meu corpo, perdido por aí, e que quis amá-lo com cuidado e tornar-se ele como me tornei.



Me tornei o meu amor.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Tocar o que chega.

Como tocar com delicadeza o que chega ignorando a nossa resistência? A razão é o motivo da chegada, a razão que faz as coisas chegarem, assim mesmo, meio sem razão...
Estava ali, tangível, pronto para ser tocado e vivido com uma loucura do seu interior, era o seu segredo, guardado sem muito cuidado e pudor. Nos átimos de qualquer dia de fuga da sua natureza exterior, ele era revelado, para qualquer alguém que por acaso ou missão estivesse ali. Tocar com paz ela não sabia, até porque não existe humano que se vê desestruturando-se, entendendo aquele processo de mutação com tranquilidade. Os sonhos são entendidos com maior tranquilidade, a vida que é a eterna busca de torná-la sonho, não. As coisas que chegam para serem tocadas, desejam que procuremos entendê-las, mesmo sendo aparentemente incompreensíveis. Procuremos entender que o que chega, sempre tem uma missão essencial que tem que ser vivenciada, apesar de toda a dor da transição após o toque. Tocar não é o problema exato, o problema é sentir... tocar e sentir.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

tempo, vou te fazer um pedido.

Por aqui, a vida vem pesada. Tudo é dito sem piedade e as palavras saem sem nenhuma vontade de ser entendidas. Eu digo, minha alma diz, minha boca e coração dizem até o que não se quer. Meu tamanho nem sempre é o que vivo, viver em outra dimensão implicam mudanças que eu talvez não conseguiria suportar, minha força é maior que meu tamanho, mas a vida as vezes é assim doída... e a dor parece ser maior que sua força, apesar de não ser. A vida como sempre grita com histeria a me pedir coragem pra viver tudo que está por vir, e me torno covarde como poucas vezes fui. Eu me vejo indo embora de mim mesma e me perdendo no meio de vontades que não me pertencem. Sou só coração e emoção, só. Nada nunca falou tão alto, nada nunca foi assim, tão merecedor de mim.

domingo, 23 de maio de 2010

e eles têm razão ,


quando vêm dizer
que eu não sei medir
nem tempo e nem medo
e se eu for
o primeiro a prever
e poder desistir
do que for dar errado?

'' não se trata do tamanho do desafio. se trata do meu tamanho.''


tão pequenina, num mundo que se estende sem pedir licença.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

o final mente.

Inicia-se uma conversa de Ulisses e Alice.

- O que quer de mim,Alice?
- Eu quero você.

Calou-se,e abriu as janelas que emitiam alguns raios de luz. Retomaram a conversa. Ulisses com um tom arrogante retomou a conversa.

- Quando?
- Agora Ulisses,quero você agora.

Ulisses a beijou lentamente como se fosse a primeira vez que a amasse,era a última. Em seguida,se levantou para ir embora. Alice não entendeu, então fez uma cara de quem fingia superficialidade e sorria um sorriso enfurecido por dentro diante de tamanho descaso.

- Você vai embora Ulisses?
- Claro.
- Eu disse que queria você agora!
- Pois é,já tive você durante um agora. Nosso agora já passou.
- Mas você sabe o que eu quis dizer,quis dizer sempre,quero você sempre.
- Sempre é muito tempo,querer tudo pra sempre é tedioso e sem paixão ardente. Essa idéia não me seduz mais.
- Mas meu amor está no ápice
- E eu,estou no ápice de viver agoras,sem muitos caminhos prolixos. Enfim,tudo que não seja muito convencional.

Alice estava a ponto de ter um colapso.

- Você é um babaca Ulisses!
- E você mais babaca ainda por querer-me sempre.
- Adeus Ulisses,seja infeliz!
- Já fui,meus agoras com você sempre foram infelizes. Agora,não mais...

Ulisses saiu a sorrir, a vida gritava lhe pedindo coragem para finalizar sua história com Alice,mesmo contando falsas verdades. Saiu da sua casa , atravessou a rua onde seu 'novo agora' lhe esperava com um sorriso de alegria. Ulisses segurou a sua mão e foram seguindo, andando pra qualquer lugar que pudessem começar a viver outros agoras. Na esperança do clichê e comercial: '' felizes para sempre'' .

qualquer coisa


Meiguice. Acidez. Política. Amor. João Gilberto. Samba. Bossa Nova. Araçá azul. Doçura. Tropicália. Cinema. Inteligência. Teatro. Musicalidade. Marina Bethania. Música popular brasileira. Doçura. Gilberto Gil. Ditadura militar. Franciso Buarque de Hollanda. Brasilidade. Rock'n roll. Antônio Carlos Jobim. Transa. Criatividade. Singularidade. Santo Amaro. Contradição. Áureos tempos. Mora na Filosofia. Sessenta. ''Salvador''. Literatura. Amado. Odiado.

Caetano Veloso.

'' ai,se existissem mais caetanos''

terça-feira, 18 de maio de 2010

eternamente.

Comovia-me ao vê-lo passar, subdividia-se entre dor, doçura e outras infinitas coisas, tenho certeza. Observando aquele corpo de movimentos lentos e delicados que carregava uma existência desconcertante, que engradecia meu coração e fazia dele maior que o mundo, imediatamente me senti feliz ,por alguns segundos por me engrandecer de tal forma inesquecível. Ninguém soube,muito menos sentia,mas eu me fiz gigante ao me deparar com tanta história e luta que aquele menino possuía,e claro privilegiada de ter vivenciado. Era dono de uma solidão tão perceptível, que me entristecia, porque nunca havia me deparado com tal sofrer mudo, em que os olhos iam além e supriam toda a necessidade de saliva, palavras bonitas,ou que contassem o seu roteiro até aqui,aqueles olhos que levavam consigo uma intensidade inexplicável ,de uma grande profundeza mostravam claramente que já havia vivido muita história dramática, muita estrada pra estar naquele estado quase imóvel. Sim, eu o amava com um amor insólito, que não se encontra em qualquer esquina, pedi a Deus pra que supere os conflitos com seus movimentos. Ele foi e será por muito tempo meu orgulho de ter nascido com vitalidade e com pernas pra transitar livremente. Logo eu, com o coração maior que o mundo. Tem dias que nascemos de novo, e crescemos uma eternidade como se vivêssemos eternamente.