domingo, 31 de outubro de 2010

Ao som da nossa velha canção, te encontro em algum lugar. Não foi perigoso ouvi-la tão perto do coração, por que não te procuro mais naqueles sonhos que um dia sentiram a utópica vontade de se tornarem reais. Suas palavras corriam para serem entendidas, mas não me alcançaram, pois não me corroem mais, não me consomem, não tiram meu sono e muito menos arrancam meu sangue com voracidade. Sinto lhe dizer, mas elas não surtem mais o efeito que você sempre desejou quando libertava todas aquelas brutas palavras que chegavam a mim, duras como pedras, e no momento em que me atingiam e que você sempre presenciava, eu esperava um abraço que me acolhesse ou até mesmo palavras falsas, que soassem doces. Mas me surpreendia, porque você sequer estendia sua mão. Enquanto eu recebia pedras, eu te mandava flores brancas e te dizia palavras delicadas, cheias de acalanto, quando você sentia a incessante vontade de ouvi-las. Te oferecia meu colo, que se fez sua casa,e que sempre acabava molhado com suas dores a liquefazer, que escorriam rapidamente por sua face, porém, nem precisava olha-la para saber que seus olhos inundavam, pois você tremia devagar se afogando no travesseiro, sem olhar em meus olhos. Mas eu nunca deixava te doer muito, porque sua dor me machucava tanto e eu queria te livrar de todos os males e dores do mundo. As tantas dores do mundo. Relembrando essa velha idéia, já vejo que o que eu desejei sempre foi o impossível, o que nunca existiu. Afinal, o mundo é tão grande que eu nunca conseguiria te livrar do inevitável. Queria desfazer você, para torná-lo a pessoa que eu amava, mas que nunca existiu em seu corpo, porque me apaixonei por uma idéia, uma idéia que você nunca se tornou pra mim. A pessoa que eu amo existe, mas não em você que sempre me deixava despedaçada pelos cantos, naqueles instantes de desespero que requer proteção. Não existe mais emoção ao te ver, ao me encontrar com nossa longa história em teus olhos, nem mesmo a vontade de pegar carona pra te acompanhar. Por que ao ouvir nossa canção, não lembrei de nada feliz, apesar de todas as intensidades que vivemos durante longos dias, não me recordei de nenhuma delas. Senti um gosto amargo que não restaram dúvidas, me fazendo lembrar daqueles dias que tudo que eu precisava era de uma mão amiga, aquela que você nunca ofereceu.

Você me disse o que era sufoco, eu descobri o que é sossego.


Aqui encerro o capítulo de nossa história: o tudo, que virou nada.