domingo, 30 de janeiro de 2011

Eu trocaria a eternidade por essa noite

Lembro-me de uma noite que foi a nossa. A primeira de tantas únicas. Única. Seus olhos devoravam muito mais que sorriam. As bocas não se calavam por puro vício de expressar o impossível de ser dito. Pele. À flor da pele. Me recordo de peles que se encontravam e se entendiam através da voracidade: o encontro perfeito. Onde os corpos se enchiam de toda forma que poderia ser o amor. O silêncio não podia ser tocado, pois as vozes falavam sem pensar, o que os ouvidos desejavam escutar. Todos os sentidos se desejavam. E naquele céu, que era o meu, estrelas pareciam desabar sobre mim, porque eu era. Eu era o luar. Era a única luz capaz de iluminar aquela noite. Já que seus olhos ao invés de iluminar, devoraram o que era luz.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Fez-se mar

E como quem decide qualquer coisa sem importância, resolvi te buscar. Sem pudores. Fui sem pensar no retrocesso ou no incômodo que me causaria. Só sei que precisava ir: tudo ou nada. Trata-se de inventar a sua presença. Precisava desatar o nó na garganta, para fortalecer outros laços. Porquê? quem é que sabe...Na verdade, nem sei os danos que desejei causar em mim. Talvez, quis sentir saudades daquele tempo. Onde tudo estava em minhas mãos, e eu nem sabia. Fui te buscar nas palavras mais distantes, tão minhas, tão amadas, tão perfeitamente tatuadas em minha memória. Na memória mais viva do coração. Pois reviver é mais forte que viver. Quando decidi te reviver um mar de água e sal invadiu os meus olhos, levando tudo de mim, levando tudo que veio, mas não chegou a ser. Tudo é mar em meus olhos. Tudo é nada, desde que você se foi.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?




Eu era o seu peão, o seu bicho preferido.

Meu mundo e nada mais,

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...




Guilherme Arantes.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Deixa o acaso

Em uma dessas noites que tem mais estrelas no mundo, você apareceu. No dia em que eu te quis, mas não te esperava. Não encontro nada nessas esquinas que se compare. Nada que seja tão diferente de mim, como você. Silêncio. Não consigo emitir os seus sons, por pura incompatibilidade de tons. Por pura gritante diferença de expressões e vozes. Eu sou um, você é o dois. Você é o par e eu sou o ímpar. Eu sou o quase tudo, mas você consegue ser tudo de uma vez só. E isso me impressiona. O que me chega de uma maneira completamente estranha, é o que eu ainda não lhe disse. Não disse porque você me fez entender o que eu nem sabia. Você não me fez triste por sequer um segundo. Nessa sua pluralidade, existem coisas que eu nunca vou ser. E na sua singularidade, existem coisas que eu nunca seria cômica o suficiente para fazê-la original. Sei que você pode me fazer chorar quando quiser. Chorar de tanto rir de toda essa besteira que é a vida. A vida que sempre aconteceu ao meu redor, e que você me mostra me fazendo rir com toda a minha vontade. Você levou tudo de ruim nesse tempo que se passou, devolvendo essa coisa toda minha, pela qual se quer viver. Quis os meus delírios de volta, as minhas sedes sem fim. Tum tum tum: alguma coisa grita por dentro. Pulsa pulsa pulsa forte. Desejo outras mãos. Sinto medo. Sinto alegria. Sinto um afeto, que ainda não consigo compreender. Sinto um cheiro de salvação de corpo e alma. Minhas mãos ficaram trêmulas, você viu. Já me conhece o bastante para saber como me sinto, e o quanto me faz sentir. Me sentir importante de todas as maneiras, que nunca fui antes. Não uma importância qualquer, uma importância que me faltava para se viver de verdade. Me encontro em qualquer ângulo que você pare para ver o mundo, embora termos olhares diferentes, conseguimos enxergar todo esse mundo à nossa volta da mesma forma. Pode dizer que eu sou a flor mais bonita que apareceu no seu jardim. Tudo se aquece por dentro... Levantou-se o sol do meu coração. Que seja doce.