domingo, 19 de dezembro de 2010

A ex feliz cidade.

Nas ruas calmas, os automóveis correm apressados, ao encontro de qualquer coisa que esteja a sua espera. O que os move é a pressa de chegar. Onde? é o que me pergunto nesses dias tão pesados e nessas noites tão cheias de luz que fazem silêncio no vazio que perdura. A cidade que tenho diante dos meus olhos é mais imensa do que já foi. Sim. Ela já foi pequena nos dias que eu andava por essas largas ruas sem carregar tanto sal nos olhos e na boca. Nada se perdia, porque nessa velha cidade que já me pertenceu um dia, eu sabia o que me esperava por conhecer tão mais verdadeiramente minhas certezas, que eram tão absolutas quando misturadas com inverdades. Tenho medo dessa cidade porque ela é má e impetuosa. Eu sei que por trás de toda essa iluminação, coisas más se escondem atrás de bocas que articulam palavras falsas que soavam sólidas. Essa cidade que é tão grande. E eu tão pequenina no meio de toda essa grandeza tão incompleta e frívola. Foram as ruas dessa cidade que me fizeram andar em direção à coisas tão indignas de sequer uma lágrima de sal. Toda essa cidade dá risadas ao se deparar com todas as minhas faturas expostas, que doem incansavelmente. Tenho medo dessa cidade, por me apresentar um universo tão cheio de nuances, onde o azul tem gosto de azul. E depois arrancá-lo das minhas mãos, jogando em minhas costas coisas tão mais pesadas e sujas. Tentei ouvir a voz tímida da cidade, que norteava todas as minhas palavras e energias a um mundo inteiramente monocromático, onde as coisas nascem para serem urgentemente mortas, onde os cantares soam desafinados e os sonhos são amargos e secos. Me agrada muito mais esse gosto amargo, do que a falsa doçura da sua presença.