quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O tempo de uma noite

- Não. Por mais interessante que eu me mostrasse à ela, eu não conseguiria, cara. Você não entende o que conheci estando com ela, não queria que ela fosse... não agora que ela já encheu meus ouvidos de palavras que sempre me faltaram e outras que me restam. Ela bebeu toda a bebida do meu copo, de uma forma encantadora. Mas na verdade todos os seus movimentos eram encantadores. Ela abria e fechava a sua boca, de um jeito tão lindo, dizendo até coisas que eu nem cheguei a ouvir, porque eu prestava mais atenção em seus movimentos do que nos sons que a sua boca emitia. Eu a desejei desde que a vi, imaginei seu vestido jogado no chão meu quarto, e imaginei também como ficariam seus olhos quando amanhecessem ao meu lado. Eu queria sua boca de novo, que neste momento e em outros futuros, saciaria quase todas as minhas vontades. Aquela boca cheia de dentes que me sorria discreta e me mastigava. Cara, aquela mulher nunca deitará na minha cama novamente, só se eu for um cara de muita sorte. Enquanto ela tirava a roupa, ela cantarolava músicas de Vinicius de Moraes, a poesia parecia morar em seu corpo pequeno. Seus olhos eram meigos, mas ali se escondia o seu veneno, que era tão doce quanto a sua presença. Antes de cairmos no sono, eu não sabia quem era ela e nem quem era eu, pois enquanto nos entrelaçavamos seu corpo parecia ser tão meu, quanto o meu. O sol nasceu... e cadê a moça que adormeceu nua ao meu lado? ela se foi antes mesmo que eu me apaixonasse mais ainda por seus olhos, que eu esperava ver amanhecer.

- Ainda bem.

- E o pior de tudo, é que nem mesmo me lembrei de pedir o seu telefone, nem seu endereço. E antes de trazê-la para minha casa, nem me lembrei de perguntar o seu nome.