sábado, 4 de dezembro de 2010

Domingo, 5 de dezembro de 2010, 00:30.

Muito prazer, meu nome é otário, vindo de outros tempos, mas sempre no horário. Sinto muito não ter te enviado cartas por esses dias que passaram tão devagar, ou por não perguntar depressa, o que acontece nas suas noites e nos seus dias de sol, porque nos dias chuvosos, sei que nada acontece. O problema é que eu não posso te escrever, pois não consigo não me lembrar daquele filme. Você se lembra? aquele filme que a gente sempre assistia, conhecendo o seu fim: trágico, sangrento e cheio de dores inacabas. Mas toda vez que eu o via, era como se fosse a primeira vez. Eu queria inventar um novo final, e um dia eu cheguei tanto a acreditar que ele mudaria, que quase cheguei a inventar que ele havia mudado. A esperança que sinto é perigosa, pois ela sempre me engana, quando mais preciso enxergar as coisas reais. E o que é a realidade? Ainda não sei. Às vezes acho que nunca cheguei a conhecer a realidade, por viver num universo tão meu. Me vejo lutando por causas que nunca vencerei. Nunca. Entrando em barcos furados na esperança de ver o irrealizável, realizar-se bem diante dos meus olhos, já cansados de tanto esperar o impossível, deixar de ser. Esses olhos que inventam o que querem ver, enxergando coisas que quase nunca, existem. Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento. Quase sempre são dragões, que se tornaram moinhos de vento. Grito com toda a minha força: sim, eu permito. E recebo-os - ainda - de todo o meu coração, mesmo conhecendo o seu começo e o meu final. Aquele velho final: trágico, sangrento e cheio de dores inacabas. Desculpe, mas não posso mais, não posso mais deixar a minha verdade para viver de suas mentiras sinceras, que não podem me interessar. Se dói? dói. Minha verdade dói e permanece só, no meio de tantos outros, que se esquecem de suas verdades ao conhecer a verdade dos outros. Só quero te dizer que tentei, de todas as formas possíveis - e impossíveis - fazer de você a pessoa que meus olhos enxergavam, e inventavam, sem parar. Fantasiando uma vida inteira, e as demolindo sem me cansar. Não sei o que é se cansar de ter esperança de um dia ser tudo que se quer, mas ainda espero ansiosamente esse dia chegar. Espero carregando o peso cansaço de uma pessoa que nunca se cansa. Talvez outro dia eu volte a te escrever, quando você parar de escrever-te em meus olhos que acreditam em qualquer invenção que pareça bonita. Não tente esquecer de tudo aquilo que se fez tão imenso em um dia que acreditamos juntos, pois é impossível esquecer de coisas que acontecem intensas dentro do peito. O fim, é só um recomeço. Foi a grande necessidade de pessoas que tentaram se mudar o tempo inteiro. Verdades não mudam, nunca. Te escrevo nas minhas tardes, noites e dias, afinal, você sempre vai estar.


Com o carinho de todo o nosso mundo que construimos - e destruimos - juntos, Juliana.