terça-feira, 30 de novembro de 2010

Casa pré-frabricada.

Havia acabado de pintar a parede da sala, agora azul. Azul: da cor da paz que desejava desde que a porta foi aberta, e fechada bruscamente, sem enternecimentos. Pelo mesmo que um dia a fechava sem urgências. Tamanha era a calma, que nunca conseguia interromper o meu sono, que era leve. As paredes com suas cores guardavam as formas, os cheiros e a história que não quis prosseguir. Naquele tempo em que tudo era faltoso, menos o amor e minha vontade de prosseguir para nossa eternidade - mas já era eterno - e eu não sabia. Quisera eu, me desfazer desses sentimentos que me consomem cada vez mais e não se ausentam nunca. Dessas coisas que de tão imensas dentro do peito, são impossíveis de suportar, mas suporto com a dignidade de um rei. O disco arranhado atrasa as canções, enquanto mudo os móveis da casa, colocando todos numa ordem que não se parece com você, afinal, você nunca chegou a conhecer. Compro novas flores e as coloco no mesmo vaso. Te leio nas suas linhas, que mais parecem minhas, tento guardá-las e me convencer que aquelas palavras não mentiam. Tão difícil entender, imagine explicar. Pois as coisas se emudeciam por dentro, assim como por fora, pois as palavras fugiam de mim. Tento mudar o que é profundo, e não desisto de decodificar tudo o que caiu no meu abismo interior. Muito interior. E não me importa que eu tenha que me destruir para que isso aconteça, pois é aí que minha coragem se esconde.